quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sobre buldogues e tias


Tias: aquela categoria social engraçada que não necessitam ter vínculo sanguíneo, apenas um comportamento avaliador maternal, mas sem a moral e a intimidade de uma mãe. Estava eu em uma festa quando ela perguntou, os olhos fitos no alvo "e essa bunda? De onde surgiu?". Me afastei com um riso sem graça e ela me deu uma apalpada do tipo fom fom. "Que durinha", disse. E repetiu, fazendo uma expressão de é isso aí, fuck yeah ou ainda that's right bitch, como minha mãe faz às vezes quando estou lavando a louça, vulnerável como uma gazela. Uma mão na banda dela, uma na minha. Fom fom. "Tá linda, não engorde", completou. Depois perguntou se eu estava namorando ou saindo com alguém. Pensei em dizer a verdade, mas preferi mentir. "Ah, mas você devia ficar com um cara de 28 anos, é uma idade boa (29, completei mentalmente), porque homem né?". E as três amigas ficaram discutindo a idade do homem ideal para mim, sem que eu dissesse uma só palavra. "Porque assim, com 28 não é que nem um moleque de 25... ele já pensa em uma coisa mais séria, trabalha...", a outra completa "Bom é 30, que já quer casar e já que você busca uma coisa mais séria..."
- Mas eu não quero nada s...
"AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH TÁÁÁÁÁ!!!" exclamaram as três, sacudindo as mãos para o alto, explodindo em catarse coletiva. "Ah então tá bom, tem é que se divertir mesmo. Porque EU na sua idade... era muito namoradeira!!".
Fico me perguntando se os tios machos têm esse tipo de ritual. Quando vêem um de geração menor, dão uma bela apalpada no pacote do rapaz para conferir e dizer "É mesmo, desde bebê eu já dizia. Puxou o meu lado da família HOHOHOHO"- diriam com as mãos apoiadas em um barrigão e as bochechas tremendo em ondulações. "Precisamos arrumar uma novinha pra você." Ou alguma coisa assim.

D. S.