Sempre tive cabelos longos. Duas ou três vezes me aventurei a cortar os fios, mas muito menos do que gostaria. Na minha infância, as personagens preferidas dos desenhos e filmes tinham cabelos curtos. Quando fiz 13 anos, estava decidida a cortar bem curtinho. Levei uma fotografia ao salão e saí de lá satisfeita. Cheguei em casa e fui logo tomar banho. É nessa hora que você realmente se dá conta do que foi embora, tenta passar condicionador no comprimento e ele não está mais lá. Posso lembrar do meu sorriso bobo nesse momento.
No dia a dia, me decepcionei um pouco. Não culpa do corte, coitado. Mas 13 anos não é uma boa idade para aventuras nas madeixas. Os hormônios estragam qualquer projeto. Não tive grandes problemas na época, me virei como pude, mas hoje penso "The horror". Deixei crescer até que tivesse tamanho o suficiente para fazer um rabo. E nunca mais soltei.
Passei o ensino médio inteiro de rabo de cavalo. Uma pena, digo hoje. Era como domar um leão raivoso. E assim se seguiu até que o cabelo tivesse quase da altura do umbigo. Resolvi fazer uma progressiva (segunda química da vida, depois de um vermelho de farmácia horroroso aos 12 anos) e o cabelo reagiu muito bem. Eu não precisava mais prender, ele estava enfim domado. Porém, a química não dura pra sempre e exige manutenção, coisa que nunca tive paciência pra fazer. Então lá vem o elástico de novo.
Já na faculdade, resolvi tentar uma coisa diferente. Cortei na altura do ombro e resolvi fazer cachinhos. Com um pouco de creme para pentear em mãos, conseguia amassar e formar os tais cachinhos. Mas se não tinha o creme, ele ficava horroroso. Era outra amarra. Eis que, há mais ou menos um ano, resolvi que não ia usar mais nenhum meio artificial. Não ia fazer progressiva, nem usar creme para pentear para mudar o meu cabelo. Decidi que ia usar ele natural, sem química, sem elástico, sem nada, como (pra mim) as coisas devem ser.
Claro que cortar cabelo não é fácil. Quando você quer fazer uma mudança radical, nunca dá pra saber onde vai dar. Ainda mais quando essa mudança radical não define o padrão que esperam de você. Muita gente acha que comprimento de cabelo é quantitativo de feminilidade. Já estamos em 2013 e ainda tem muita gente que torce o nariz para cabelo curto porque acha que "não é coisa de mulher". Eu mesma já ouvi isso explicitamente. Basta olhar ao redor, todo mundo tem cabelo comprido. Vira e mexe surge uma moda (principalmente por conta das novelas) e as pessoas tomam coragem pra cortar. Mas o que vemos nas revistas são maneiras de deixar o cabelo comprido, como fazer a manutenção do cabelo comprido, como é lindo o cabelo comprido etc, etc. Eu mesma já enchi o saco do cabelo comprido. Ele é lindo, e muitas pessoas ficam muito bem com ele, mas não é pra mim. Hoje eu vejo fotos da época do longo e não me reconheço.
Estava com tanta vontade de cortar, que pedi ao cabelereiro que eu mesma passasse a tesoura. Ele fez um rabo com um elástico e me entregou a tesoura. Estava tão emocionada que minhas mãos suaram e o que era pra demorar 10 segundos, demorou alguns minutos pra que eu cortasse tudo. Mesmo assim foi muito bom. Demorei um pouco pra me acostumar e entender como meu cabelo natural funciona. Tivemos que iniciar um relacionamento. Cortar cabelo é bom por isso, você aprende onde tem rodamoinho, pra que lado fica bom, onde ele fica volumoso, etc.
Hoje o nosso relacionamento corre às mil maravilhas. A única coisa que eu acho que falta, é aprender a usar pomada, gel, mousse, todos esses recursos que modelam o cabelo. Com o cabelo curto, você pode colocar pra cima, fazer topete, arrepiar, marcar algumas mexas coisa e tal. Acessórios também ficam muito bem nos curtinhos, como tiaras, fivelas, colares e brincos. O bom dos curtos é que os acessórios se sobressaem, como também os detalhes do rosto. Por isso, acho o cabelo curto muitas vezes ainda mais feminino do que o longo, porque faz você prestar atenção nos traços do rosto da pessoa. Se ela tiver traços delicados, fica quase sempre com cara de boneca. Eu gosto. <3 Tá aí a lindíssima Emma Watson que não me deixa mentir. Cortou tudo fora depois de viver a Herminone por uma década, foi como um ritual de passagem. Ela foi mesmo radical, cortou até o cotoco, mas ninguém precisa começar do extremo. Pode ir aos pouquinhos, como eu mesma fui de certa maneira. Esse modelo que ela usa é chamado Pixie, que engloba desde os curtíssimos até mais ou menos o comprimento do channel. Parece pouco, mas as possibilidades são infinitas. Quem tem cabelos enrolados, ondulados e crespos também têm muitas opções. Sou louca nas versões afro e no channel encaracolado da Camila Pitanga. Tão bom tomar vento no rosto sem engolir cabelo, sabe?